Comércio exterior: mais do que vender ou comprar

O comércio exterior fechou 2017 com dados positivos, exibindo superávit de US$ 67 bilhões, com alta de 18,5% sobre o ano anterior. Este ano, os primeiros meses também confirmam a tendência positiva da nossa balança comercial. O dólar estabilizado tem contribuído, em parte, para este equilíbrio, assim como a necessidade de algumas empresas de encontrar novos mercados para escoar suas produções, um tanto sem absorção pelo mercado interno nos últimos anos.

Porém, as transações de comércio exterior – seja em qualquer sentido de movimento, comprando ou vendendo, não são atividade para aventureiros tampouco devem entrar, indiscriminadamente, na pauta dos cortes de gastos de empresas que já tenham algum amadurecimento com esta prática de negócio.

Há quase 40 anos operando, diariamente, distintos produtos para meus clientes, já experimentei alguns altos e baixos deste dinâmico mercado, onde a margem de lucro, muitas vezes, está ligada muito mais à eficácia burocrática da operação do que propriamente na escolha dos itens a serem negociados. Evidente que a máxima comercial se aplica também ao comércio exterior: compre bem para vender bem. Já assisti a empresas que deixaram o lucro em operações mal assessoradas. Esta é uma seara na qual o Brasil figura como se não o país mais complexo, mas, indubitavelmente, como um dos que apresentam os piores entraves na hora de desembaraçar a mercadoria na etapa alfandegária.

Temos regras que só fazem sentido para nós ou, ainda que nem façam tanto sentido, apenas podem ser operadas por quem vive o dia a dia, especialmente, das importações, onde residem as maiores dificuldades. Como especialistas, podemos compreender e ter habilidade para solucioná-las em tempo de fazer valer os esforços das boas negociações, realizadas pelas equipes comerciais.

Depois de entenderem que os benefícios fiscais, já não podiam ser revertidos em grande vantagem financeira aos seus clientes, por conta da alíquota interestadual que foi reduzida em 2012, temos visto algumas empresas iniciarem o caminho de volta em busca da eficácia logística dos escritórios especializados. Importação é processo que só melhora à medida que se conhece com profundidade a rotina. Por isto, não pode ter seus custos medidos apenas por impactos fiscais. É certo que a queda dos benefícios fiscais impactaram nos ganhos financeiros ligados à tributação. Mas, os riscos das operações mal sucedidas continuam a impactar negativamente sobre os resultados de negócios que, muitas vezes, foram muito bem desenhados e executados comercialmente, porém negligenciados nas etapas seguintes. Assim é o comércio exterior.

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Silvio Nunziato é CEO e fundador da Intermares, criada em 1980. O executivo figura entre os principais especialistas em comércio exterior do país, sempre à frente de importantes missões e negociações em favor de grandes organizações nacionais e multinacionais, com estreito relacionamento com os principais mercados ao redor do mundo.